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Filosofía de la alteridad y derechos humanos. Entrevista de Alex Ibarra a Antonio Sidekum

Entrevista a Antonio Sidekum (A.S), filósofo brasileño que se destaca como uno de los fundadores y principales animadores del Corredor de las Ideas del Cono Sur. Realizada por Alex Ibarra Peña (A.I) y Hugo Biagini (H.B) Coiectivo de Pensamiento Crítico palabra encapuchada

A.I: Profesor Sidekum agradecemos la posibilidad que nos da para hacerle esta entrevista. A diferencia de otros entrevistados en Chile su obra nos parece menos conocida. ¿Considera usted que el tema de la lengua sigue siendo un problema para el conocimiento de los autores brasileños en el Cono Sur latinoamericano?

A.S: Em parte sim, a língua sempre foi uma certa dificuldade para os dois parlantes: castelhano e portugués. Porém, eu considero um problema de orden histórica e política. Nós nunca tivemos um programa de integração verdadeiramente cultural entre os países latino-americanos. A iniciativa atual é a do Mercosur, porém, é de uma integração meramente de políticas comerciais, por exemplo, a integração educacional entre nossos países nunca é tratada com seriedade. Um exemplo é o reconhecimento mútuo das atividades universitárias.

H.B: Colaborando a este aspecto de difusión y desde tu trabajo intelectual. ¿Cómo puedes perfilar los principales lineamientos de tu formación académica fuera y dentro del Brasil, tu país de origen y residencia?

A.S: Minha formação acadêmica é filosófica e pedagógica. Fiz meu curso de Filosofía na Faculdade de Filosofia em Viamão, cerca de Porto Alegre, durante os anos duros da ditadura cívico-militar do Brasil, mesmo sendo proibido o estudo do marxismo nas universidades brasileiras de então, nós estudávamos Marx com um enfoque de filosofía, sociología e economía política da América Latina. O Mestrado realizei na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Minha dissertação foi sobre a Intersubjetividade em Martin Buber. Este trabalho foi publicado em Porto Alegre em 1978. Nesta época já estudávamos a filosofía da libertação. O Doutorado realizei na Universidade de Bremen, Alemanha. Iniciando o estudo sobre Emmanuel Levinas na Universidade de Freiburg in Breisgau sob a orientação do Prof. Dr. Bernhard Casper e depois migrei para a Universidade de Bremen sob a orientação do Dr. Hans-Jörg Sandkühler e de Raúl Fornet-Betancourt. A tese tem como título: Ethik als Transzendenzerfahrung: Levinas und die Philosophie der Befreiung. Publicada na Alemanha em 1993 e agora traduzida ao portugués sob o título: Levinas e a Filoosofia da Libertação. Na universidade sempre defendi o ensino da Filosofía Latinoa-mericana. Outra importancia para minha formação filosófica é o trabalho na Universida Centroamericana de San Salvador, El Salvador como profesor visitante en el Programa de Postgrado en Filosofía. E recentemente fui convidado para trabalhar na Comissão Municipal da Verdade, em Volta Redonda RJ, isso graças ao meu engajamento ético pelos Direitos Humanos. A perseguição política, as dores, torturas, mortes e demais sofrimentos que muitos experimentaram durante a ditadura cívico-militar no Brasil (1964 – 1985 e fatos subsequentes) são parte do centro das minhas reflexões filosóficas. Eu me dedico ao trabalho nesta perspectiva da memória das vítimas para construir um esboço para uma reflexão ética atual mais abrangente.

H.B: En la perspectiva general de la filosofía latinoamericana y el tema específico de la liberación, ¿qué nos puedes decir sobre la importancia que guardan en Brasil la filosofía latinoamericana y la teoría de la liberación en sus distintas vertientes?

A.S: Como professores de filosofía nas Universidades Brasileiras quase nunca tivemos oportunidade para ministrar uma cátedra de filosofía da libertação. Os académicos de filosofía sempre tiveram um desprezo pelo pensamento latino-americano, nas Universidades Brasileiras. Sempre houve uma colonização filosófica através do eurocentrismo. Os filósofos latino-americanos eram pouco conhecidos. No entanto, participei na organização de muitos seminários internacionais com a participação de filósofos da libertação como Arturo A. Roig, Enrique Dussel, Raúl Fornet-Betancourt, Horácio Cerutti, Mauríicio Langón, Ricardo Salas Astrain, Hugo Assmann, Franz Hinkelammert, Dina Picotti, entre outros. Também tenho participado do Programa do Diálogo Norte-Sul, com representantes da Ética do Discurso de Karl Otto Apel e Raúl Fornet-Betancourt. Finalmente sou articulador da Filosofia Intercultural. De momento coordeno uma Enciclopédia Latino-americana de Direitos Humanos.

A.I: Volviendo al aporte intelectual del Brasil y aprovechándonos de tu situación de observador en el terreno de la historia de las ideas en tu país. ¿Ves alguna razón particular para considerar que desde ese país se hayan hecho una gran cantidad de aportes a la teología de la liberación? ¿Consideras que esta praxis teórica sigue vigente y otorgando nuevos aportes para América Latina?

A.S: Sim. Por um bom tempo a Conferência Episcopal Brasileira e varias outras igrejas cristãs viam com bons olhos o movimento da Teología da Libertação, com este movimento se criou a Igreja Popular e as Comunidades Eclesiais de Base. A Teologia da Libertação teve apoio de muitos bispos que estavam engajados pela luta dos Direitos Humanos. Em algumas regiões eclesiásticas brasileiras o espírito das Comunidades Eclesiais de Base, ainda hoje, continuam a vigorar graças a visão renovadora de algunos Obispos. Os novos aportes acontecem na defesa dos Direitos Humanos, sob a expressão da defesa dos Povos Indígenas, que sofrem um forte enfrentamento com o agro-negócio e pela falta de política em defesa dos indígenas pelo atual governo federal. Não existe uma plataforma política clara para com os indígenas. Um outro aporte é a defesa da diversidade cultural, pela interculturalidade, mesmo muito principiante, como medida contra a globalização económica e política.

H.B y A.I: Entrando en tu obra, en la cual claramente encontramos un aporte a la interculturalidad, ¿cuál ha sido, según tu entender, el aporte de la interculturalidad al ámbito de la ética y la política? ¿Qué aportes surgen hacia la construcción de sociedades más democráticas?

A.S: O grande aporte dada pela interculturalidade se refere à ética. A ética do reconhecimento da alteridade. A interculturalidade tem uma abordagem diferente a do multiculturalismo, pois, para mim o pressuposto fundamental da interculturalidade é conhecer a alteridade do outro em sua plenitude de ser. Não se trata de uma simples tolerância daquele que é diferente, mas o reconhecimento em sua constituição e consciencia existencial do outro como sujeito histórico. Os aportes para uma sociedade mais democrática é mergulhar na arqueología do ethos cultural dos diferentes povos: tais como os povos indígenas, afro-descendentes. Pela interculturalidade existe a possibilidade de dar voz a todos estes povos excluídos, principalmente pelas tradicionais constituições dos países. Eu considero os povos indígenas brasileiros como estrangeiros em sua própria casa, isso acontece pela falta de políticas públicas claras e dignas para com estes povos. É necessário um resgate cultural dos grupos marginalizados e oprimidos. Também, no Brasil, por exemplo, não temos nenhum estudo sobre o ethos cultural do afro-descendente que diga respeito ao pensamento filosófico africano ou da teología africana. Esta ausência deste conhecimento é o principio da situação excludente da verdadeira identidade cultural e dos Direitos Humanos. E, assim, temos uma forma de exclusão da vida democrática.

H.B: Entre los que se han acercado a tus aportes teóricos, en esta perspectiva de la interculturalidad, se han destacado tus planteamientos sobre la alteridad. ¿Por qué razón consideras que se te puede reconocer como un “filósofo de la alteridad”?

A.S: O meu ponto de partida são os temas que trato na minha tese de doutorado: a alteridade tratada por Emmanuel Levinas, que não deixa de ser um filósofo judeu-europeu, mas seu mérito foi de explicitar a alteridade como grande abrangêcia filosófica. E para tanto teve que utilizar-se de categorías da condição humana que não são tratadas na filosofía grega e não se encontram explícitas na tradição do Idealismo Alemão. A partir da filosofía da alteridade somos levados ao questionamento ético numa perspectiva da relação interpessoal. A filosofía da libertação tem um sentido ainda mais abrangente pelo aporte da alteridade. No momento em que a opressão, a dependência e a dominação política, que são a negação da liberdade como ato e afirmação, forem superadas, então inicia-se o reconhecimento da alteridade. Assim acontecerá a libertação que é a afirmação do sujeito que supera a negação. A libertação, por isso, será compreendida como a positividade da ordem e do homem novo. Contemplar o sentido deste movimento como diacronia significa reconhecer a chave da filosofia da alteridade e da libertação como uma inovação filosófica personalista. Isto é, descobrir no ser humano a insubstituível inquietação. Esta inquietação encontra-se no ego e esta inquietação será ultrapassada pelo outro, uma vez que o outro me faz refém na minha própria existência. A relação da comunidade, que provém da libertação e leva o ser humano para a relação de fraternidade, requer uma relação para com o outro na justiça que é constitutiva para a comunidade. Contudo, seria esta filosofia uma filosofia política, que contém de modo implícito este pensamento. Esta filosofia será uma filosofía innovadora da consciencia histórica e luta pela sua introdução através do conceito de liberdade e responsabilidade infinitas para com a alteridade.

H.B y A.I: Considerando parte de tu trabajo de gestor cultural ¿Puedes hablarnos sobre los tres emprendimientos en los cuales has sido un artífice decisivo, a saber: el Corredor de las Ideas del Cono Sur, la editorial Nova Harmonia y la Enciclopedia Latino-Americana de Direitos Humanos? ¿Qué evaluación y proyecciones puedes hacer sobre estos proyectos?

A.S: O Corredor das Ideias do Cone Sul trata do principais temas da região: Identidade, Democracia e Direitos Humanos. Para mim seria um camino que se abre para tratarmos os nossos problemas comuns e de integração regional. A prova para um movimento similar está na grande afluencia de público académico, principalmente de jovens universtários. Editorial Nova Harmonia: Tem como principio filosófico divulgar o pensamento latinoa-americano e ser um porta-voz da filosofía intercultural. Temos grandes dificuldades para levar este projeto adiante, pois, o público de leitores na Brasil é pequeño e faltam-nos patrocinadores para esta temática. Quanto à Enciclopédia Latino-americana de Direitos Humanos, apresentamos a proposta editorial que é de elaborar um trabalho enciclopédico visando reunir entradas que tratam dos Direitos Humanos na América Latina. Estas entradas preparados, cada qual, por especialistas sobre a respectiva temática. Este trabalho deve congregar experiências, realidades e teorias que versem de forma pontual sobre os Direitos Humanos na América Latina, de modo que, este estudo sobre Direitos Humanos tenha um recorte geográfico e cultural específico, pois não tratará sobre os Direitos Humanos em uma dimensão universal e genérica, mas sim, invoca particularidades vividas nesta região do mundo. Justificativa: nos estudos feitos sobre América Latina, surgiu uma série de discussões a respeito das suas peculiaridades políticas e sociais, as quais não se ajustariam ao pensamento do europeu colonizador, ou das forças hegemônicas internacionais.

A percepção destas dissonâncias trouxe imediatamente algumas conclusões:

1- Se a colonização “jurídica” acabou, existe ainda uma colonização cultural, mediante a importação teórica e a construção de discursos que submetem os interesses regionais aos das forças hegemônicas;

2- A necessidade de construir formas de compreensão teórica, centradas no contexto latino- americano;

3- Determinados ideários políticos que marcam esta sociedade, principalmente na modernidade, precisam ser construídos levando em conta peculiaridades regionais, refutando algumas pretensões de universalidade indiferentes aos problemas específicos da América Latina;

4- A América Latina constitui um enorme sincretismo cultural, realidade que precisa ser considerada politicamente;

5- A luta por autenticidade ganha uma dimensão teórico-política fundamental.

6- A luta pela emancipação implica na luta por libertação.

A.I: Considerando nuevamente nuestro compromiso con la difusión, ¿desde su conocimiento de la filosofía brasileña nos puedes destacar algunos autores o textos importantes producidos en el Brasil actual?.

A.S: De Manfredo Oliveira Ética e Racionalidade Moderna y Ética e Economia. E autores como: Eduardo Mance, Fernando Henrique Cardoso, Marilena Chaui, Darcy Ribeiro, Milton Santos, Castro Matheus Felipe Castro, Antonio Carlos Wolkmer.

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